terça-feira, 14 de julho de 2009

Se fosse mais perto ia lá mais vezes!

Uma vez fui ao Brasil... Não tem nada a ver... mas fui! E lá, só há autoestradas em São Paulo e no Rio. E ninguém percebe porquê. Resignados dizem... é o terceiro mundo, sabes!
Onze dias depois voltava ao calor da minha Lisboa.
De volta, estive duas semanas entre trabalho de escritório e a viver essa cidade que me encanta onde tudo está perto e tudo me vem parar às mãos. Sem esforço, sem tropelias. Apenas com algum trânsito, ou alguns minutos de metro.
Ao final da segunda semana recebi ordem de marcha e zás!
Para Málaga num pulinho, 700 kms de auto-estrada entre Portugal e Espanha e já lá estava. 500 deles em Espanha. 200 numa auto-estrada que liga Leon a Sevilla. Vazia como sempre. Isso é que eu gosto daquela estrada!
Quinta para voltar Sexta, para voltar Domingo!
Qual fugareiro, qual camionista, qual... qualquer profissional que passe mais tempo na estrada que a ver jogos do Glorioso (Granda Benfas!!).
Quinta passou, chegou Sexta. Decidi-me por um itinerário alternativo já que tinha tempo para reviver velhos passeios pelo país profundo. A pressa de chegar aos meus destinos e as velocidades que normalmente emprego nas minhas viagens impede-me de fazer as tão adoradas incursões em estradas onde posso encontrar as Velhas do outro ou sonhar as quintas de um dia...
Mas Sexta pude. Saí de Málaga às 1130 locais e às 1330 locais já passava pelo posto misto da não tão nova travessia do Guadiana em Castro Marim. Hummm.... Que fome! E se fosse almoçar à Vila Museu? Assim foi. Por um IC que eu nem sabia existir, o 27, lá cheguei até Alcoutim. Pelo caminho, aliás bastante rápido, uma serra algarvia onde não se vê vivalma. Aliás, um IC onde eu, Marco Rocha, ao volante de um Renaul Clio, me cruzei com um carro e ultrapassei um tractor. Deixou-me a pensar... para quê esta estrada tão boa? Para quê gastar tantos milhões de euros numa estrada que reduziu a distância entre Vila Real de Santo António, essa enorme metrópole, e Alcoutim, talvez pole... de metro não tem nada, em apenas uma hora. Será uma hora? Nem sei... Às tantas reduziu meia hora. Não acredito... terá sido mesmo uma hora. Que me diga quem conheça o que era a estrada antiga. Importa-me referir que Alcoutim foi, em tempos, um dos concelhos mais pobres da Europa. Não sei se ainda é, mas pelos quilómetros de absolutamente nada que vi, admito que sim...
Pois bem, não era esse o meu destino. Era Mértola, Vila que para mim, muito pessoalmente, tem encanto como nenhuma outra em Portugal. Bem vistas as coisas, todas têm o seu encanto, e é de cada uma, nenhuma copiou o encanto de outra, né? Ok, se o Cacém é vila esqueçam a questão de todas terem encanto! Quem diz Cacém, diz... Paio Pires, ou Fernão Ferro, ou tantas outras... agora isso não interessa nada, mas... Dá sondagem... Qual a vila menos encantadora dos arredores de Lisboa? Tinha porém um problema... a maioria são cidades! Até a Costa é cidade! Vale tudo! Enfim... Voltando a vilas com encantos...
Passando Alcoutim voltei ao verdadeiro Portugal profundo... A estrada estreitou 10 metros, passando a ter uma faixa de auto-estrada para circularem dois sentidos, um piso típico que se torna quase liso por tantos remendos que já tem, curvas e contra-curvas onde um daqueles LASO (Camiões de transporte de pás de aerogeradores) ficava encravado e claro, bermas fabulosas para... quais bermas? O calor forte apertava, a fome também e Mértola que é bom, tá quieto!
Eis que de repente lá estava! O Convento de São Francisco com a sua espécie de museu da água e galeria de arte. Estava a chegar!
Gosto mesmo daquela terra! Da ribeira de Odivelas, ao Guadiana, à torre da Cegonha, ao Castelo, aos vários edifícios públicos, ao museu da câmara e, claro, às minas de São Domingos. Mas não era dia para nada disso. Era dia para comer, apreciar aquele ar quente, silencioso, com aroma a esteva e rosmaninho (Ena pá! Rosmaninho? Não faço ideia... não deve ser... mas que cheira bem, cheira!), ouvir o silêncio e simplesmente estar. Estar enquanto comia bem. Estar enquanto apreciava. Estar enquanto pensava no que veio, vai, ou foi. Estar. É o tipo de ar que nos deixa a simplesmente estar. Até porque se me mexer por pouco que seja desidrato!
E assim foi. Recomendação do Chefe de serviço (De outra vila sem qualquer encanto... Desculpa Manuel, mas é verdade!) lá fui em busca do Brasileiro. Noutras ocasiões já tinha pensado nisso, mas o facto de um restaurante de cozinha regional Alentejana se chamar "O Brasileiro" despertava-me algumas reticências... Encontrei. Entrei na esplanada e vi a lista. Porra! Odeio quando isto me acontece! "Desculpe, não me podia servir um pouco de cada?" Devia ter perguntado... A indecisão que me inunda perante listas com tantas coisas boas é terrivel. Odeio. Acabei por me decidir por uma Açorda de Perdiz brava. Resultado? Eu, esplanada, 40 graus, duas médias fresquinhas e a melhor açorda de perdiz que já comi. A melhor seria fácil, visto que foi a primeira, mas porra! Estava mesmo boa! Sobremesa... "Tem fruta?" "Sim, laranjas e maçãs." "Melão, não tem?" "Tínhamos, sim, mas deixámos de ter... Sabe o que é? Fizémos um contracto com um senhor da Amareleja..." Calha bem, pensei... terra do Melão! "... acontece que os melões saiam de lá pela manhã e quando aqui chegavam à tardinha já estavam estragados! Desistimos!" "Mas como estragados?" "É da viagem... é longa e cheia de solavancos. A fruta não aguenta!" Comi uma laranja. Óptima. Seguramente do Algarve, aproveitando o tal 27 e mais uns 20Kms de solavancos... A laranja aguenta mais, né?
Pois bem... tudo isto para quê?
Adoro que me digam que as estradas novas e as auto-estradas são um disparate. Adoro que me digam que a A6 é uma parvoíce. Adoro ver gentinha tacanha de Lisboa que por terem nascido em berço dourado acham que podem sobre os destinos de quem teve a sorte de nascer longe da confusão. Sorte para eles, claro. Eu adoro a confusão. Mas também adoro o meu país. Todos os seus recantos à excepção das tais vilas e cidades sem encanto. Para essas, o meu Não adoro.
Mas acima de tudo adoro a gente deste país. A gente que dá a palavra aos mais idiotas que, estando convencidos que são inteligentes e mais espertos que os outros todos, só conseguem sacar gargalhadas de quem sabe o que o país é e como está.
Adoro comboios. Acho que esse é o caminho. Rápidos e lentos. Todos têm o seu espaço. Estradas estreitas e largas, boas e más. Mas tudo com conta, peso e medida. Se hoje eu demoro uma hora e pouco a chegar a Évora, é porque alguém investiu. Nós.
Os meses que levo em Espanha, e os kms que já por lá fiz, deixam-me a pensar na quantidade de barbaridades que se dizem neste país. Poderia dissecar uma a uma, mas o texto já vai longo e não quero maçar ninguém com o tema das Obras Públicas.
Em suma espero que tenham percebido o que quero passar aqui... Caso contrário uma dica...
Se O Exmo. Sr. Miguel Sousa Tavares tivesse chegado à fala com o Marquês, e se o tivesse convencido, hoje não passaria uma mota na baixa pombalina, quanto mais autocarros da Carris! Isto claro, se ele não lhe tivesse logo cortado a cabeça! Ah granda Marquês! (ironia nesta parte...)
Dê-se razão ao ministro. É um deserto. Por falta de água, por falta de gente, por falta de muita coisa. Mas estes Tuaregues merece ser tratados como o Miguel. Com metro, estradas, comida fresca, e vá... fibra óptica!
Para não ser só dizer mal, cá vai mais um dizer bem. Vejam lá se não é mesmo gira!

With love from "uma vila museu desterrada no deserto do Miguel"
Marco

6 comentários:

centrípeta disse...

Silêncio e Mértola?
Fazer silêncio em Mértola?

O silêncio. Mértola.

A combinação perfeita...


Um beijinho, m.

P.S. E a Mina também arranca suspiros, oh se não arranca... ;)

Anónimo disse...

Falou e Falou bem!!! (Neste caso escreveu)...

E das palavras à acção? (se é que me entendes)

PPortugal

Marco Rocha disse...

É nas próximas Portugal... é nas próximas... Mas pela junta de Santiago não começo de certeza! Haha

Marco Rocha disse...

E honra seja feita, tenho de dizer isto... O reflexo que se vê na foto não é o espelho de água do Guadiana... É o tejadilho do Espada! Granda Espada! parece o Guadiana! Hehe

Mana disse...

Em Monsaraz,local também ele encantador, as pessoas que não têm dinheiro para cabo, não têm televisão com sinal! Isto porque o Regulamento lá do sítio não permite antenas e a Junta de Freguesia para compensar prometeu cabo para todos.... resultado: de promessas está o Inferno cheio.... agora tira as conclusões!
Bonito, mas 3º mundo! Vá-se lá perceber porque é que há "autoestradas" em Alcoutim! Passei por lá há pouco tempo e achei também muito cómodo fazer a estrada a 140km/h, mas parece um desperdício ser usada só no Vérão para aquelas gentes alentejanas (super simpáticos e prestáveis, não me interpretes mal!)poderem fazer praia em Monte Gordo, não? ... e os outros coitados, nem televisão podem ver! Fiz-me entender????

Marco Rocha disse...

Pois fizeste... Mas o que digo é muito mais!
O que digo é resposta ao palerma do outro. Acho bem o 27, acho bem o cabo dos outros. Mas acho que o devem ter, assim como os outros que de metro vão escrevendo as suas tristes crónicas nos seus Nqq coisa! É isso...