Coisa engraçada, a escrita. Há meses, vá semanas, que ando para escrever um post sobre um tema. Writer's block, não tenho conseguido. Hoje, na obra, liguei o msn. Frases saíram fluentes, linhas atrás de linhas escrevi o que me apeteceu. E o que não me apeteceu também. Já disse que há bocado começou a chover?!
A bandeira, a nossa bandeira, tem três cores. Principais são três. Uma é a esperança. Mas que esperança?! Representação estilizada da bandeira em mesa de restaurante colocou um vermelhão enorme (compreendo, Benfas!), um amarelo proporcional, mas um verde do tamanho de um rasgo de folha de alface. Explicação. A esperança é pequena.
Nesta estranha labuta que levo, fui iniciado às questões da gestão transcultural de recursos humanos. Aparentemente um disparate das Sociais e Humanas, acabou por ter alguma piada e me abrir os olhos para algumas coisas interessantes que vejo, em Portugal e, claro, em Espanha. Talvez em Portugal numa perspectiva de desafio face às ideias pré-concebidas sobre nós, portugueses. Em Espanha numa perspectiva de "ver se encaixa". Encaixa na perfeição. Um Espanhol dirá certamente o mesmo sobre os Portugueses.
Mas afinal o que diz essa tal lenga lenga da "transcultural não sei quê"?!
Pois bem, tempo tenho e, como sabem, gosto de explicar coisas (hehe, já lá está no perfil... topam!?), portanto... ora bem (forma como outra qualquer para começar uma exposição e, para mais, da qual eu sou fã!):
Diz um sujeito de seu nome Hofstede, Holandês, que uma sociedade (ou uma cultura) pode ser caracterizada por quatro parâmetros ou dimensões. Eles são: Distância de poder; Individualismo versus colectivismo; Masculinismo versus femeninismo e Aversão ao risco.
Portugal está a meio da tabela dos paises fixes e a Guatemala está em primeiro lugar. Nã.... brincadeira. Não há paises fixes nem menos fixes. O que há são 4 dimensões. Que tentam refletir diferentes tipos de sociedade e cultura.
Como se cota então um país!? Comparativamente. A única forma. Tendo por base uma sociedade que conhecemos bem, e sabendo os valores de um determinado parâmetro, podemos tentar perceber o que há noutro país naquela dimensão cultural.
Concretizando. Distância de poder. Portugal tem uma distância de poder de 63. A meio da tabela. Isto quer dizer que encaramos os chefes como chefes, mas ainda assim lá os vamos desafiando e achamos que um dia podemos lá chegar. Paises nórdicos, por exemplo, têm este valor muito baixo. Todos acreditam que podem chegar a chefe. Na Malásia, este valor é máximo. Quem nasce da cepa torta, jamais se vai endireitar.
Individualismo. Portugal é anfitrião de uma sociedade altamente colectivista. Das mais colectivistas do mundo. Isto quer dizer que, por exemplo, para me ganhares, tens de ganhar os meus amigos. Eu presto atenção ao que eles dizem e, se para eles estarem bem eu tenho de estar um pouco pior, então até pode ser. O grupo, o meu grupo, existe e não é exclusivamente composto por mim. E pelo meu grupo, seja de que tamanho for, mas tendencialmente grande, eu farei o possível e até mesmo o impossível. Ingleses, por exemplo, altamente individualistas, acreditam no seu núcleo (por oposição a grupo), farão o possível para que as suas conquistas pessoais existam, não se preocupando tanto com o núcleo, mas sabendo que, em última análise, o seu êxito será também do seu núcleo. Não é altruismo nem egoísmo. São formas de chegar ao mesmo ponto. Uma por um lado, outra por outro.
Masculinismo. Não somos machos. Não somos. Ok, portuguese do it better! Mas a sociedade portuguesa é feminima. É mau!? Nem bom. É uma forma de ser. Somos ligados às relações interpessoais. Somos latinos. Temos preocupações sociais, mesmo que mascaradas ou limitadas por uma parca capacidade financeira, mas temos.
Por último, Aversão ao Risco. Somos a par com a Grécia (!??!) a sociedade com maior aversão ao risco. Ora este ponto é-me particularmente sensível. Então o povo que em vez de continuar a cavar e a apanhar castanhas para comer com o porquito se aventurou pelos mares tem forte aversão ao risco?! Temos medo da inovação e do que é diferente!? O que me leva de volta à esperança...
A esperança é curta. O medo de arriscar é grande.
Vamos trocar as cores. O vermelho seja a esperança e se mantenha assim mesmo, grande (Benfas!)! Que arrisquemos no que não conhecemos. Que inovemos no dia a dia e nas grandes decisões. Mas acima de tudo, que não tenhamos medo do que é novo. Que não punhamos de parte o que aparece só porque não conhecemos. A novidade pode dar desconforto. Pode. mas também pode dar coisas novas, bonitas, e que nunca antes vivemos. Por isso são novas!
O quinto império já foi. Os Descobrimentos ficaram na memória e na Praça do Império. Mas as descobertas essas, são as que nos podem dar um dia novo, um depois do outro. Novo, diferente e, quem sabe, melhor!
With love from Um admirável mundo novo,
Marco